quinta-feira, 17 de novembro de 2016

[Mini-Conto] Fathara bint Hussayn

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Salve, salve!

Mais um conto nesse semestre produtivo :D - um conto para a oficina semanal de um grupo de escrita no qual entrei há pouco tempo. O desafio era escrever um conto curto de até 500 palavras, com o tema espada


Voltamos às dunas de Āsh-Sharq, o continente leste de Aera, e voltamos ao personagem de outro conto aqui do blogue.

Espero que gostem!


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Fathara bint Hussayn
(do universo de Aera, o mundo dos Deuses Ventos)
(histórias de Āsh-Sharq, os desertos do Leste)


Sou uma espada maldita.

Fui forjada nos desertos por um antigo alquimista-ferreiro, que me concedeu o dom de elevar ao poder e à glória aquele que me empunhar em batalha. Foi assim durante muitos portadores e anos, até que minha ganância me levou à traição de meu derradeiro dono.

Desde então, sou uma espada maldita.

Jafar bas Jafar usou seu próprio sangue para selar sua maldição. Fui condenada pelo ódio a amar todo portador que os ventos do azar trouxessem para o meu punho; condenada pela magia a antever e me tornar a causa da morte de meu amor; e condenada pelo sangue a jamais poder adverti-los de tal destino.

Sou uma espada maldita, e invejo a morte daqueles que amei. Porque eles, pelo menos, alcançaram o descanso, enquanto eu sigo nessa terra amaldiçoada pelos ventos.

Os abutres do deserto rodeiam agora os mortos do campo de guerra, onde me encontro. A batalha há muito cessou, e entre os corpos jaz meu último portador – Rasid, meu amor – trespassado por uma alabarda depois que meu peso o desequilibrou contra o inimigo.

Oro aos ventos do leste para que dessa vez eu seja poupada, que desapareça sob os corpos e seja para sempre esquecida.

Passos e vozes.

Catadores, em busca do espólio da guerra. Se ao menos eu pudesse...

– Venha, Sara, encontrei uma arma valiosa!

Não, afaste-se de mim, eu grito em meus pensamentos.

– Ela... é linda.

Não! Por tudo que é mais sagrado, por favor, não! Os deuses não tem piedade, o mundo é um lugar terrível! Os ventos do destino me odeiam, o azar ri de mim! Pois quem me encontra é uma... uma criança!

Fátima – esse é o seu nome – me toma em sua mão, e pela milésima e uma vez, eu amo com toda a paixão que os ventos me deram, amo seu rosto pequeno, seus cabelos negros e olhar agudo. E mais uma vez, eu vejo.


Dois anos se passaram, e Fátima, ainda jovem, tornou-se Rainha dos ladrões de Al-Amiin. Ninguém pode contra a agilidade de seu braço e o poder de sua cimitarra mística.

Essa noite, após dedicado planejar, ela tomará o covil de Massud, seu único e terrível rival. Mas minha magia e o ouro de meu corpo atraíram a cobiça de Sara, sua amiga de infância, que trocará a vida de Fátima para me possuir. O ataque é frustrado pela traição e os homens de Massud rendem a mim e a minha amada. O terrível criminoso, então, me rouba, me admira, me ergue. Com um sorriso de escárnio, desce minha lâmina sobre o rosto aterrorizado de Fátima.

Está feito. No dia seguinte, Sara finalmente me possui, e por mais uma maldita vez, eu amo.



Que os ventos tenham piedade de mim.



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Arte do conto: desconhecido. Se alguém souber quem é o artista original, favor me informar para que eu possa dar os devidos créditos (não consegui decifrar a assinatura na imagem).

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