quinta-feira, 20 de outubro de 2016

[Conto] A noite-dia de Kriz'Ur (parte II)

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Chegamos à segunda parte!

Para livrar seu reino da ameaça, Telëne aceita se submeter a um perigoso ritual em busca de mais poder, pondo em risco sua segurança mesmo contra os apelos de seu irmão, Tamdrash.

Junte-se a Taurelas e acompanhe sua majestade em sua temerária missão!

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2.TELËNE
(do universo de alta magia de Iph'oriam)


– Irmã... – suplicou o segundo rei de Kriz’Ur.

– Tamdrash, eu já me decidi.

A voz ecoou no salão do castelo da Rainha, no topo da cordilheira leste de Kriz’Ur, no plano material.

Ele olhou com dor para ela. Os cachos, antes volumosos e brilhantes, estavam curtos e esgarçados, mal presos na tiara real. Algumas mechas ainda estavam chamuscadas da primeira batalha contra Ashardalon, e a pele morena dos braços estava marcada com cicatrizes de queimaduras – não havia magia de cura em todo o reino que pudesse removê-las. A rainha agora mancava levemente, resultado de uma ferida que ainda não cicatrizara da última batalha contra Ashardalon, no décimo assalto desde que o Rei Vermelho se lançou contra o reino.

O pior eram seus olhos. Os olhos divergentes de Telëne sempre emitiram força e inspiraram poder, mas nos últimos meses se tornaram tristes e cansados, com olheiras permanentes de estresse e dor.

Tamdrash também não estava em seus melhores dias. O braço do rei estava imobilizado em uma tipoia; fora quebrado magicamente na penúltima batalha, e seu corpo trazia uma série de hematomas e cortes que ele ainda não tivera tempo para cuidar.

– Eu... ainda tenho certeza de que isso não é necessário, irmã – sussurrou ele – enviei emissários para Kenorion, Ilkan e Ghenera, em busca de reforços. Akrae e Ulkur estão ocupados demais com as ofensivas no norte, e temo que só não estejam em pior situação porque o maldito concentrou suas maiores ofensivas aqui. Se aguardarmos a respost...

– Não há mais tempo, Tamdrash! – exasperou-se ela – Os campos de Eneddôr foram tomados, todo o litoral ao leste do vale já se transformou num porto para o Reino Vermelho. As regiões de Tumnim e Losorod já foram conquistadas e a cada batalha recuamos mais e mais para dentro do vale!

– Mas se Kenorion...

– O reforço não virá, Tamdrash, não em tempo – suspirou ela – Estamos já na metade do inverno, e só por isso os ataques diminuíram. Em dois ou três meses a neve deixará as partes baixas do vale, e sem dúvidas Ashardalon irá fazer outra grande ofensiva. Nosso reino está muito distante dos demais para que enviem soldados antes da próxima batalha. Eu... eu achei que pudesse proteger Kriz’Ur com meu poder, mas falhei.

– Mas você protegeu, irmã! Foi preciso o próprio Ashardalon deixar seu reino para que seus ataques deixassem de ser frustrados por você! E na batalha de Losorod ele estava mais fraco, você sentiu também. Estas ofensivas o estão consumindo.

– Talvez um pouco mais fraco, irmão, mas se tive que fugir dele na primeira batalha, nas últimas ainda não tenho sido páreo numa luta direta.

Tamdrash aquiesceu. Fora com pavor e desespero que viu Telëne, a dragonesa mais poderosa do Império, perder para Ashardalon na primeira batalha. A magia, o poder e a resistência do Rei Vermelho eram absurdas, e se não fosse a ilusão de Tamdrash e o resgate Taurelas, ela poderia ter tombado naquele confronto.


Condecorada como heroína de guerra após o resgate dos regentes, Taurelas Andramm aguardava no salão, junto com alguns generais e conselheiros.

Naquela primeira batalha, a general encontrara a rainha no campo inimigo em forma humanoide, extremamente ferida, amparando com o ombro um Tamdrash na forma humana e coberto de sangue. A rainha irradiava sua aura de frio para manter longe os soldados que os cercavam, mas não suportaria aquilo por muito tempo. Quando Taurelas chegou, ela teve forças apenas para lançar uma última rajada de gelo, abrindo espaço para que a águia-mariposa pousasse. A general e o soldado içaram os regentes para o dorso da montaria e deixaram o campo de batalha.

O resgate da irmã custou ao segundo rei um de seus suspiros – Tamdrash morreu do ferimento nas costas causado pela magia de Ashardalon, três dias depois da batalha. Foi trazido de volta à vida por uma irmã de olhos marcados de tristeza e de culpa, mas Tamdrash fora categórico. As vidas de Telëne eram mais importantes que as suas – com que ânimo o reino lutaria se vissem sua poderosa Rainha tombar nem que fosse uma vez? – e, apesar de tudo, ainda lhe restavam dois suspiros.

– Mesmo assim, irmã, não concordo com essa ideia – continuou ele. Telëne sorriu.

– E mesmo assim irá me ajudar, Tamdrash. Se tivermos êxito – e seus olhos por um instante voltaram a exibir o brilho altivo que um dia possuíram – Será Ashardalon quem irá fugir humilhado para seu Reino.

Tamdrash sorriu, um sorriso triste.

– Que o seu desejo se torne uma profecia, irmã.

<< ☾ >>

A última lua minguante daquele mês de inverno nasceu.

Subia por trás das últimas montanhas da cordilheira de Kelebren, ao leste, derramando seu brilho já fraco sobre as sombras nevadas do reino. Em tempos normais, a semana seguinte, sem lua, seria de preparação e espera, e quando a lua nascesse de novo, crescente, todo o vale estaria em festa.

O nascimento da primeira lua crescente, símbolo de Kriz’Ur, era celebrado por todos os povoados do vale, sejam de homens, elfos ou feéricos, fosse verão ou fosse inverno. Dessa vez, porém, não havia motivo para celebrar.

Por trás de Losorod, a mais alta montanha ao norte, colunas de fumaça se erguiam contra o azul escuro da noite. As fogueiras da guerra, sinal da presença inimiga próxima e símbolo de suas últimas conquistas, assombravam as esperanças do povo.

Telëne, em sua forma feérica, observava a lua pela sacada de Rinovarzith'anhew, o belo castelo de mármore branco e semprigelo, sua morada.

Passara as últimas semanas de inverno se preparando e condensando seu poder. Filtrara sua aura, tatuara sua pele morena com espirais e mandalas mágicas poderosas, de Faërie e dos elfos, e recebera o encantamento dos magos mais poderosos do reino. Sua energia estava contida, mas ela podia sentir que estava mais condensada, mais forte. E era preciso que ficasse assim.

Mais um dia e chegaria a primeira noite sem lua do segundo mês daquele ano, e à terceira hora depois da meia-noite, ela circundaria quatro vezes o altar que erguera, invocando cinco vezes os seis nomes mais poderosos do sétimo inferno.

Um ritual obscuro, cujos segredos foram obtidos num sonho que a rainha teve quando ela entregou seu corpo aos espíritos que guardam o espaço entre este e o mundo além-véu.

No sonho, Morithil Dûiâ, a lua escura que habita os abismos do mundo, sussurrou para ela os nomes malditos que deveria convocar, e mostrou cada etapa do ritual a ser feito. Quando eles vierem, Telëne deveria doar parte de sua essência, de seu passado e de seu futuro, a fim de receber mais poder para dominar o presente. Quando as entidades forem satisfeitas, Telëne receberá tanto poder quanto lhe for possível suportar, o suficiente para ultrapassar em milhares de vezes o atual. A transferência de energia poderia ser interrompida a qualquer momento em que ela rompesse a cerimônia, mas se ela suportasse o suficiente, teria tanto poder que poderia finalmente ascender para o nível de total divindade.

Uma deusa que não só seria capaz de vencer o Rei Vermelho, mas esmagaria todo o seu exército e terminaria a guerra de uma vez por todas. Se Telëne suportasse o necessário, ninguém mais se lembraria do nome de Ashardalon.

Se.

Tamdrash observava a irmã de seu próprio castelo, Thurkear'kethend, de mármore negro e semprigelo, que se erguia sobre a neve da montanha vizinha.

Usava sua forma humana, com uma feição carregada e de olhar incerto. Com muito custo e dor permitira que Telëne sujeitasse seu corpo ao gozo dos espíritos, e com ainda mais relutância aceitara que ela realizasse o ritual com as entidades malditas. Mas, como o vento leste que encontra caminho entre Orodûr e a montanha Espiral, vindo do mar, não havia nada que impedisse a vontade da rainha.

Ambos trocaram um olhar silente, e retornaram para seus leitos. O dia seguinte seria longo, e a noite seria pior.

<< ☾ >>

O crepúsculo veio, e nenhuma lua galgou as montanhas. Começou a nevar lentamente, cristais pequenos trazidos pelo vento frio.
Era chegado o momento.

Os principais magos do reino compunham o círculo-mandala ao redor do altar. Teciam proteções e feitiços de poder, sobre si, sobre o local e sobre a rainha, que estava ajoelhada diante do pedestal. Mesmo Tamdrash estava entre eles.

Taurelas observava tudo à certa distância, juntamente com os demais conselheiros, generais e heróis de guerra. Seus olhos totalmente azuis-metálicos, escuros como o mar numa tempestade, acompanhavam os ritos e os feitiços com um ar misto entre reverência e temor. Assim que o encantamento principal começasse, todos que não fizessem parte do círculo-mandala deveriam deixar o cômodo – um dos salões mais profundos de Rinovarzith'anhew –, e erguer suas próprias proteções.

Ao seu lado, Elian Fareth, general-mago do reino e chefe do principal destacamento de magos do exército, ergueria o escudo que os protegeria do miasma do ritual. O velho feérico, de cabelos prateados tão longos que se acumulavam no chão, mantinha a compleição tensa.

Ele se remexeu, incomodado.

– Mesmo a rainha não nos dizendo quem seriam as seis entidades malditas – sussurrou ele para Taurelas, seus olhos totalmente dourados brilhando de apreensão – eu tenho meus palpites, e nenhum deles é menos terrível do que enfrentar o próprio Ashardalon com as mãos vazias.

Taurelas também se remexeu em sua posição, desconfortável.

– É engraçado ouvir um mago temer um inimigo por estar de mãos vazias, Elian – sussurrou ela com a amizade trazida pela guerra, mas sorriu – Lembro que em Tumnim você não podia erguer nem mesmo um dos braços e mesmo assim enfrentou Ishkar.

O outro exibiu um leve sorriso.

– As necessidades da guerra transformam as pessoas.

– Sim, transformam pessoas e reis – aquiesceu ela, e suspirou, perdendo a posição de sentido. Voltou-se levemente para que os demais não pudessem ouvi-los – Ainda não acredito que sua majestade se sujeitou aos espíritos e a este pacto sombrio para proteger o reino... Você acha que há chances da rainha ser... corrompida pelas entidades?

– Tocada ela será, pela troca de essência ou pelo fluxo de poder. Mas não do jeito que você teme, amiga – e ele depositou uma mão em seu ombro – a vontade da rainha é poderosa e não se deixará corromper. São os... os convidados que eu temo.

– Todos nós. Não sei se minha espada seria de grande valia hoje... – e então os cânticos ficaram mais fortes e eles se voltaram para o altar – E mais uma coisa... Quanto sua majestade precisa receber para ascender?

– Ela saberá. Tenha fé em sua majestade, como sempre tivemos – Ela aquiesceu, mas sua tensão não diminuiu.

O tempo se arrastou desde então, mas finalmente veio a terceira hora após a metade da noite.

Telëne começou a circundar o altar, entoando nomes tão sombrios que à sua simples menção os ouvidos dos demais zuniam e a mente vacilava.

Elian ergueu o escudo instintivamente, ordenando que os outros expectadores o seguissem para fora do salão. Os nomes que ouviu sua rainha invocar eram terríveis demais e sua confiança vacilou; seria loucura se manterem tão próximos.

O mago fechou o portão e lacrou a fechadura com doze selos arcanos. Agora Taurelas podia apenas acompanhar o ritual pelas luzes por baixo da porta, mas em pouco tempo, mesmo essas sumiram.

E então, até os menos sensitivos sentiram uma presença opulenta, que sufocou o ar e enfraqueceu as tochas, uma presença que pressionou suas mentes a trazerem à tona as piores tristezas pelas quais já passaram, que fez emergir lágrimas involuntárias mesmo na face dos mais endurecidos veteranos.

Mas a presença diminuiu e ficou distante; Elian fortalecera o escudo, e eles puderam respirar um pouco melhor. Olharam apreensivos para a porta lacrada; logo uma nova presença se manifestou.

E mais outra.

Lá dentro, já uma quarta, e agora uma quinta entidade se fizeram sentir, sobre o altar, vergando as mentes e vontades dos que compunham o círculo-mandala. Quando a sexta presença veio, eles sentiram sua magia estalar, como uma corda antes de arrebentar e trazer tudo abaixo, e em silêncio gritaram de desespero. Mas a prisão arcana persistiu.

Telëne curvou-se diante deles, e um diálogo rápido, audível apenas pela rainha, aconteceu. Em algum momento ela aquiesceu, e uma sombra passou pelos seu rosto e levou parte do brilho dos seus olhos. O instante seguinte, que durou apenas duas batidas de coração, se arrastou mais lento do que toda a vida de um dragão de prata.

Súbito, ela se empertigou de forma estranha, como se estivesse sob o aperto mágico de um feitiço poderoso, e então, flocos de energia começaram a migrar do altar para ela, primeiro lentamente, depois velozes e então abundantes como a água de um grande rio da montanha.

Sua imagem começou a reluzir, pulsando a cada golfada de energia, e sua presença também ampliava, vergando por sua vez os escudos dos magos. Telëne sentia uma onda de força como nunca sentira antes, e seus sentidos se expandiam junto com seu poder. Ela pôde sentir os magos do salão, os generais e conselheiros lá fora, e então todo o castelo, e então o castelo do irmão, e agora todo povoado daquele lado da montanha, e então todas as montanhas, até as fileiras do inimigo.

Seu poder crescia de forma absurda, e ela quis mais. Seu corpo inteiro tremia de tensão e prazer, cada onda de energia excitava cada molécula, cada fio de seu cabelo ondulado. As marcas de queimadura sumiam, os ferimentos fechavam, e ela tremia de gozo. A sensação era muito mais forte do que qualquer prazer que ela jamais tivesse sentido, que jamais tivesse provado, e ela convidava cada vez mais energia para inundar seu espírito, preencher seu corpo, embrutecer sua alma.

Mas não era suficiente, nunca seria. Insatisfeita, pediu mais, e a onda de energia triplicou, torcendo levemente seu corpo para trás, que tremia de prazer. Telëne alucinava; não queria parar, não podia parar, não até receber tudo, não até que alcançasse o auge, até se sentir preenchida por toda aquela energia e ampliar seu espírito. Seu corpo não mais reluzia, mas brilhava como um globo de luz arcano, ofuscando aos magos, mesmo os mais poderosos, e banhando tudo de poder.

Um grito desesperado soou em sua mente, e em meio ao gozo e turbilhão de sensações ela ouviu a voz de Tamdrash. Apenas o suficiente! gritava ele, e por um breve momento Telëne voltou a si, ofegante, e o fluxo de energia enfraqueceu. Nesse instante de lucidez, porém, ela notou que seu poder, apesar de ampliado, ainda não era o de um deus, ainda era Telëne, a rainha que perdia a guerra. Precisava de um pouco mais.

Já é mais do que suficiente! respondeu a voz, mas Telëne sabia que havia mais medo do que verdade naquele aviso. Ashardalon era mais poderoso, ainda precisava de poder; tanto sua razão quanto e seu corpo concordaram.

E ela recebeu mais.

Seus sentidos nublaram e o prazer agora estava em cada espaço de seu corpo, em cada canto do castelo, cada pinheiro, cada colina, em cada lugar que ela pudesse sentir. Não havia mais Telëne, mas sim um amontoado de sensações, de emoções, de prazer, e ela queria mais.

Seu corpo brilhou como um sol naquele salão, e o grito de desespero de Tamdrash foi como o trovão que anuncia o desastre.

Na montanha central da cordilheira Kelebren, Rinovarzith’anhew explodiu.

A explosão brilhou com uma luz tão poderosa que afugentou as nuvens de neve, iluminou as sombras e ofuscou a noite, transformando em dia, dia claro, todo aquele lado do vale.

O povo, os animais e até as árvores acordaram e se voltaram para o céu e para a estrela em cima da montanha. A beleza do espetáculo trazia um terrível augúrio, porém, e parte do espírito de todos os que miraram a luz naquele dia-noite, minguou e morreu.

A luz durou ainda alguns instantes, como se o próprio sol tivesse descido sobre Rinovarzith’anhew.

Mesmo os que nunca souberam da verdadeira causa se lembrariam da Goeol-Dûor, a noite que virou dia, como ficou conhecido aquele instante a partir de então. Os que sabiam sua causa amargariam aquela noite com um luto que duraria ainda muito tempo, mesmo séculos depois que o último sangue daquela guerra tivesse sido derramado. Os que desconheciam a causa se lembram da marca que a luz maldita deixou em suas almas.

E então, a luz cessou.

Quando a noite voltou, a neve recomeçou a cair por todo o reino, mais forte, acompanhada por uma chuva de gelo, granizo e cristais brilhantes. Algumas avalanches rugiram pelo vale, como os ecos de uma grande catástrofe, e nuvens espessas se avolumaram e cobriram as estrelas.

Sobre aquelas montanhas, só havia agora um castelo, Thurkear'kethend, que fora vergado para o norte com o peso da explosão, como uma árvore vergada pela nevasca que nunca mais voltaria a ficar de pé.

Sobre a montanha, numa cratera negra e profunda, varrida de neve, magos jaziam espalhados por algumas dezenas de passos, alguns já sem vida, outros apenas feridos, entremeados por conselheiros e generais em igual estado.

Prostrado no chão, no centro do desastre, onde antes havia um altar, Tamdrash de Kriz’Ur gritava, de desespero, de dor, de raiva.

De culpa.

De impotência.

Telëne de Isilivren já não estava neste mundo; nem nunca mais voltaria.




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Arte do capítulo: Untitled2, por Sami Mattila (Smattila) (©2006-2016 Smattila).
Website: http://smattila.deviantart.com/

Um comentário:

  1. Impressionante. Pensei que fosse acontecer diferente com Telene, porém a ganância só nos traz retrocessos. Muito bom mesmo. A fantasia nos faz viajar. Já imaginava poderes sobrenaturais para que pudéssemos virar o Brasil de cabeça pra baixo. Parabéns pela criatividade.

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