terça-feira, 31 de janeiro de 2017

[Mini-Conto] Iridescência

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Conto novo antes das férias :D

Mais um do desafio de 500 palavras do E.L.F.A, agora com o tema arco-íris.

Resolvi desenvolver uma pequena cena em Zemi, o universo onde estou trabalhando meu primeiro livro. Espero que gostem (:


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Iridescência
(do universo de Zemi, o planeta de mil luas)



– Vamos lá, então – disse Adriana, implicante. Apontou para o arco iridescente que nascia nas nuvens e riscava até quase o horizonte, atravessando muitas das luas do céu violeta do planeta – Quantas cores você vê?

Alex apertou os olhos, tentando forçá-los a enxergar além do que poderiam. Ele estava blefando, é claro.

– São... são oito oitenas de cores!

– Ah, claro! Então diga o nome de cada uma delas – riu Adriana.

O irmão mais novo fechou o cenho, contrariado, e suas glândulas fizeram sua pele brilhar de umidade.

Ainda não tinha desenvolvido todos os espectros da visão. Ele inventara. Tendo a trivisão de um infante, sequer sabia o nome de tantas cores assim para enganar a irmã.

– Mas eu t4mbém est0u vend0 as c0r3s! – disse Pi, o flutuang de Alex.

– Não está, não – respondeu Adriana, sorrindo – Você enxerga igual ao Alex. Eu que ajudei a te construir, esqueceu?

– Eu dis53 que era mu1to ced0 – ecoou a voz robótica de Zero, o flutuang de Adriana – Ap3na5 n0 fin4l da metam0rfose, de sete a o1to ano5, um z3mã desenvov3 o 3sp3ctro da tetr4visã0 por c0mpl3t0 e passa a 3nxerg4r c0mo um adult0.

Pi fez uma careta com seu visor-rosto, seguido por Alex.

Muitas funcionalidades dos flutuanghi, robôs construídos para otimizar o funcionamento vital de cada zemã, só eram atualizadas depois da metamorfose completa. Não fazia sentido, por exemplo, lhes permitir enxergar cores que seus zemani ainda não podiam ver.

Alex cruzou os braços negros de manchas amarelas da sua espécie, e fechou o cenho. Era teimoso como Adriana.

– Então – disse ele, desafiador – quantas cores tem o arco-íris?

Adriana sorriu e se voltou para o céu noturno. Era uma noite clara, de muitas luas – trezentas e vinte e sete, contou Zero –, cada uma derramando uma miríade de cores diferentes sobre o planeta.

– Você diz, hoje? Bem, hoje eu vejo doze matizes de vermelho, duas oitenas de laranja e amarelo, e, se não me engano, umas três oitenas de verde e turquesa. Por exemplo, ali, perto das luas tri-gêmeas, há uma mancha de marrom, vermelho-escuro, castanho e coral, mas perto Davi, a lua azul-pérola, vejo um rastro de ciano, turquesa e aquamarina.

– O arco-íris muda de cor? Você não tinha dito isso!

Ela gargalhou da confusão dele.

– S3mpre, a d3pender das lu4s no céu – respondeu Zero.

– Mas!

– Lembra da oração que fazemos a Urh dos Céus? Pedimos proteção "até que sete se tornem infinito". Quando crescemos e nossa visão amplia, as sete cores que eu sei que você vê no arco-íris tornam-se milhares. A oração, na verdade, pede proteção até que nos tornemos adultos e possamos enxergar por nós mesmos.

Alex voltou-se para o céu, deslumbrado pela quimera de cores que ele não podia ver. Ele tinha apenas seis anos, mas dali em diante, aprendeu a enxergar muito além do que seus olhos podiam mostrar.

Adriana não sabia, mas essa lição ele carregaria por toda a vida.


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Arte do conto: rainbow whispers, por Amanda S. (sewer-pancake) (©2011-2017 sewer-pancake).
Website: http://sewer-pancake.deviantart.com/

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