terça-feira, 20 de dezembro de 2016

[Mini-Conto] Herança

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Conto nooovo!

Historieta nascida de um desafio do grupo de escritores que participo, o E.L.F.A. (Escritores de Literatura Fantástica Associados). O desafio tinha o tema Maldição e no máximo 500 palavras.

Revisitei o universo de Kriz'Ur, trazendo um pouco mais sobre os anos pós-guerra. 

Espero que gostem (:


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Herança
(do universo de alta magia de Iph'oriam)


– Sim, eu a vi. Eu estava no vale quando uma estrela explodiu sobre a montanha da Rainha, queimando a noite com sua claridade tóxica, amaldiçoando a todos com a tragédia.

– A Goeol-Dûor... – Taugel arregalou os olhos laranja-fogo, quando entendeu.

– Sim – e havia dor nos olhos da Senhora, antes de revelar – Eu presenciei a terrível noite-dia.

A Senhora do Vale Secreto de Pînnaur, pela primeira vez em anos, pareceu a Taugel velha e frágil. Era uma visão estranha para uma feérica, mesmo para alguém da idade dela, o que só a fez estremecer ainda mais.

– Mas, heryn, eu não acho que estou pronta...

A Senhora a olhou com olhos cansados. Lá fora, acima do Castelo de Obsidiana, o fim da tarde tingia o céu de rubro – em Faërie, quase sempre era fim de tarde.

– Tem de estar, Taugel. Pînnaur suportou os anos de guerra e sobreviveu por muito tempo como um esconderijo. Mas agora que uma nova Rainha clama para unificar as cidades secretas, precisamos de um pulso forte – e jovem – para comandar este vale. Você foi escolhida, pelos seus talentos e por seus defeitos, como minha sucessora, e eu não poderia estar mais certa de minha escolha. E a vi em minhas visões – e a Senhora sorriu – liderando exércitos com a tiara de semprigelo e empunhando minha espada.

– Suas visões, heryn. Então, se eu tomasse o seu lugar, eu herdaria o seu dom?

– Conforme conversamos, sim – ela se ergueu, fazendo desaparecer a imagem de fragilidade – Você sabe, se não fossem as visões com que fui abençoada, Pînnaur teria caído há muito e muito tempo. Mas agora você também sabe o preço. Sim, eu vi a luz da Goeol-Dûor, e se eu trouxe bênçãos daquela noite terrível, também trago a maldição que ela me lançou. Não posso passar adiante minhas visões sem passar também este fardo que carrego.

Taugel arregalou mais uma vez os olhos, e então os fechou quando entendeu. O preço das visões era a maldição da noite-dia. Era ser separada para sempre deste mundo.

– Eu nunca mais poderei sentir – sussurrou ela.

A Senhora avançou um passo e ergueu as mãos de Taugel entre as suas. Seus olhos azul-metálicos, sem íris, eram os olhos fortes de quem sobreviveu mais anos do que poderia suportar.

– Não, nunca mais... Ao aceitar o que lhe peço, o toque da brisa, o frio da neve ou calor do sol, tudo o que celebramos, serão apenas sombras do que um dia foram. Mas... Pînnaur precisa de uma liderança, e eu... eu há muito já não sirvo para este cargo.

Aquilo era um preço muito alto, alto demais para um feérico, porém, embora não se sentisse pronta, a resolução de unir, finalmente, o seu povo, cantou mais alto em seu coração.

Por fim, Taugel aceitou, e com um sorriso aliviado a Senhora entregou sua vida e deixou este mundo.

E nos séculos que se seguiram, não houve um dia sequer, em Faërie ou nos planos mortais, em que Taugel não tivesse se arrependido.

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Arte do capítulo: . , por Barbara Florczyk (BaxiaArt) (©2013-2016 BaxiaArt).
Website: http://baxiaart.deviantart.com/

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