segunda-feira, 16 de outubro de 2017

[Mini-Conto] A dança do Oeste

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Bora desbravar o Oeste de Aera!

Novo conto pro E.L.F.A., um desafio de até 500 palavras com o tema exército.


Esse é o segundo conto que se passa no continente de Ìjọbowusu, no Oeste do universo que estou desenvolvendo.

Espero que gostem!
 

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A dança do Oeste
(do universo de Aera, o mundo dos Deuses Ventos)
(histórias de Ìjọbowusu e Kitakuni, os campos do Oeste e as ilhas do Norte)


Yamamoto Soichiro, o historiador oficial da ilha-nação de Morishima, esteve presente quando o exército de seu senhor lutou na planície de Fájánà. Se não fosse assim, poucos teriam acreditado.

O exército de Morishima era numeroso, escreveu Yamamoto; suas tendas ocupavam toda a praia de Fájánà, e seus navios cobriam a extensão do mar até o horizonte gelado. Seu daimiô navegara com seus homens até a costa daquele continente para tomar as savanas de Fájánà e as rotas comerciais entre o Norte e o Oeste.

Durante muito tempo houve trégua entre os daimiô das ilhas e Fájánà, mas o Vento Norte soprava forte naqueles anos, e espalhava a guerra pelo mar.

"Conhece a ti mesmo e a teu inimigo", escreveu o Sábio. O exército de Morishima era habilidoso na arte da guerra, e suas armas, mágicas ou materiais, eram temidas entre as nações do Norte. Mas, disse o Sábio, "mesmo a melhor espada, se mergulhada em água salgada, enferrujará".

Pois Morishima nunca havia combatido o povo do Oeste.

O exército de Fájánà veio antes do nascer do dia, quando a neblina era alta e ocultava sua chegada. Os generais do daimiô formaram as fileiras às pressas para receber o inimigo, com armas e armaduras de metal.

Os fájánes, porém, traziam o torso negro nu e vestiam saiotes de tecido, com mãos vazias e apenas colares de osso sobre sua pele escura.

Não houve diplomacia. Tão logo chegaram, soaram suas grandes cornetas de chifre e, sem armas, avançaram.

Pé ante pé, em sincronia e pisadas firmes, os fájánes seguiam o som dos tambores de guerra. Moviam os braços com gestos treinados, girando o corpo ao som de sua música, dançando conforme avançavam, executando os movimentos marciais de seu povo.

E o mundo dançou com eles. Primeiro, a névoa, acompanhando cada movimento, pulsou e cresceu, tornando-se densa. Os dançarinos-marciais de Fájánà então giraram, fazendo a neblina espiralar, envolvendo e sufocando a primeira fileira de Morishima.

Depois, dançou a terra, que tremeu e vibrou, se abrindo quando os fájánes saltaram, e engolindo a segunda fileira inimiga.

Apenas no terceiro movimento os generais de Morishima perceberam que combatiam magos poderosos, e gritaram ordens para que os onmyoji, seus samurais-feiticeiros, avançassem.

Katanas cuspiram fogo e trovão, e lanças invocaram o gelo do céu, mas como lutar contra o próprio terreno?

"Quando cercado, recorra ao estratagema", diz o Sábio, mas não havia artifício ao qual recorrer no furor da batalha. Mas ele também diz que, "em situação desesperada, lute", e foi o que Morishima fez.

Os onmyoji da ilha-nação eram poderosos, e muitos fájánes tiveram a honra de cair sob suas armas mágicas; mas os ventos da vitória estavam com o Oeste, afinal.

E foi assim, escreveu Yamamoto Soichiro, que um dos maiores exércitos do Norte foi derrotado por guerreiros sem armas.

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Arte do conto: sem título, autor desconhecido (quem souber favor me avisar para deixar os créditos)
Website: https://wall.alphacoders.com/big.php?i=155047

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