segunda-feira, 16 de novembro de 2015

[Mini-conto] Instante


Um mini-conto presente, meio poema, escrito a toque de caixa (: 
(primeira vez que escrevo um assim)

Sobre os simples - e grandes - presentes da vida.
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Instante
(do universo de Aera, o mundo dos deuses-ventos) 
(histórias de Ka'aretama, as selvas do Sul)


Era uma vez uma fada-orvalho.

Nasceu numa noite fria e nublada, quando o sol demorou a esquentar o ar e evaporar o sereno da floresta.

Talvez por isso tenha vivido mais do que sua espécie normalmente é capaz. As nuvens a protegeram do calor do sol, e ela pode ver, deslumbrada, a beleza da floresta iluminada pelo dia.

Fadas-orvalhos, primas da chuva, nascem do beijo do vento sul, que traz umidade, sobre as folhas das árvores durante a noite. São seres noturnos, nascidas na noite para perecer aos primeiros raios do sol.

Mas aquela fada-orvalho fora abençoada com algumas horas a mais, permitindo que visse coisas que jamais sonharia. Viu as nuvens se erguendo dos vales em direção ao céu, ouviu o canto das aves anunciando o sol, ouviu o tambor dos homens que iniciavam o dia. À sua frente, o grande rio-mar se espalhava, correndo do norte para o sul, atravessando a planície de So'üandype para desaguar na floresta de Selvancestral. Por toda a sua volta, a selva acordava, e o mundo era tomado de cores.

Cores que a noite escondera, cores que sua espécie não estava acostumada a ver, nativas como eram das sombras.

Mas o infinito se fez instante, e o sol venceu as nuvens. O calor borrou com vapor d'água os olhos da pequena fada, e ela diminuía, deixando a folha e ganhando o ar. Deixando essa vida.

Mas se foi com um sorriso sereno - como só o orvalho é capaz de sorrir - pois pode testemunhar o que muito poucos de sua espécie puderam um dia. E o sonho de luz e cores que presenciou, isso ela levaria consigo, dessa para as todas as outras vidas que tivesse.


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Imagem retirada de ultradownloads.com.br

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